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"Escrever e ler são rituais mágicos. Num primeiro
momento, aquele que escreve transforma a sua carne e
o seu sangue em palavras. No momento seguinte, aquele
que lê transforma as palavras lidas na sua própria carne e
no seu próprio sangue. A isso se dá o nome de antropofagia.
O escritor se oferece para ser comido. O leitor lerá o
texto se o seu gosto for bom. Se o gosto do texto for bom,
ele então o comerá até o fim. Escrever e ler, assim, são um
ritual eucarístico: comer carne e beber sangue. O sangue
do escritor então irá circular no corpo daquele que o leu.
Os rituais antropofágicos não se faziam por razões gastronômicas.
O que se desejava era que as virtudes da vítima
fossem transferidas para o corpo daquele que comia.
Esses textos são pedaços de mim. Li muitos textos sagrados.
Comi aqueles que me deram prazer. Os outros, meu
sangue os rejeitou.
Agora eu os ofereço como partes de mim mesmo. Se eles
lhe derem prazer, você ficará parecido comigo. E experimentaremos
aquilo a que se dá o nome de comunhão..."