"Por trás de uma aparência familiar, cotidiana, as histórias que o paranaense Miguel Sanches Neto conta neste livro revelam as múltiplas facetas da experiência humana e a dificuldade de comunicação que marca os relacionamentos entre homens, mulheres, pais e filhos.
Um turista na Espanha acaba se tornando amigo de um casal de brasileiros: a possibilidade de um triângulo amoroso se insinua o tempo inteiro, mas pode muito bem ser algo imaginário, assim como a paixão de um fazendeiro de origem holandesa por uma famosa socialite, que ele conhece através de um quadro. Nesta coletânea, proliferam-se narrativas de amores que não se concretizam, e de desejo sexual que, para além do prazer, traz angústia. Exercendo pleno domínio das formas breves, Miguel Sanches Neto constrói aqui uma série de situações verossímeis em sua sordidez de detalhes envolvendo personagens que compartilham uma profunda e desoladora solidão. Em A bicicleta de carga e outros contos, o que está em jogo é o caráter ambíguo e opaco da linguagem. É através de tudo o que não se revela que as criaturas a quem o autor deu vida mostram-se tão humanas."
A escritora paranaense Nohêmia Santos Lima apresenta poesias sobre o vivido e o sonhado, o intuído e a realidade. Em perfeita harmonia com este existir poético, a obra é ilustrada por Raro de Oliveira. Uma leitura leve que percorre a memória singular da autora.
Afonso, afinal, é um homem ou um inseto? Nem uma coisa nem outra, caro leitor. Nosso herói na verdade se chama Celina e é mãe (pai?) de Chico em tempo integral, além de bancária das nove às cinco. Até o dia em que, mais ou menos como o personagem de Kafka, acorda de sonhos intranquilos metamorfoseada em uma estranha criatura que faz xixi em pé e coça as partes íntimas em público. Com pelos no corpo e um volume inesperado abaixo da barriga, Celina/Afonso não sabe se está diante de uma inédita catástrofe fenotípica ou de uma bela oportunidade para descobrir como funciona (ou não) o sexo oposto. Com a capacidade de rir de tudo, a começar de si mesma, Claudia Tajes atrai o leitor de mansinho. Sem que percebamos, a leitura produz um efeito tal que também acabamos rindo de nós mesmos e da época em que vivemos. Para falar sério, sem nunca perder a ternura e o bom humor, tem que ser mesmo muito macha.
Seguindo a mesma linha de obras anteriores, Nilton Bobato descreve nesta coletânea de contas, tendo como cenário principal a fronteira e Foz do Iguaçu, numa linguagem visceral e contemporânea traz personagens que caberiam em qualquer lugar do mundo, do inesperado das ruas e do acaso, que mostram seres que não alcançam as dimensões de sua própria condição ou mesmo da avalanche desoladora de possíveis soluções para explicar nosso tempo medíocre.
Um garoto está preso em um mundo cheio de personagens estranhos e situações desafiadoras. Para voltar para casa, ele tem de resolver charadas e desafios matemáticos.
Um povo sem história é um povo sem raízes. (...) A cultura caipira é parte do processo histórico. Quando conto uma história, gosto de estar o mais próximo possível das personagens, com suas falas simples, com sua coloquialidade natural, com sua objetividade. (...) Acredito sinceramente que não é possível separar a realidade da ficção. Neste agrupamento, escrevo e descrevo a vida no campo, em que liberdades gramaticais são tomadas, sempre em nome da autenticidade das personagens. (...) Palavrões e expressões chulas são às vezes necessários, até pelas reações passionais das personagens. Há quem diga ser o diálogo o ponto forte de minhas histórias. Acredito. Afinal, gosto de conversar, e minhas personagens são naturalmente conversadoras. Muitas delas são construídas e se desnudam por meio das falas que têm.