Costuma-se dizer -- assinala Fernando Savater no prólogo desta edição -- que os escritores mais notáveis de uma época, aqueles que durante a sua vida atingiram contemporâneos, passam, ao morrer, por um purgatório, instalam-se para sempre na glória dos eleitos, no limbo dos estudados, no rodapé dos manuais ou no inferno do puro e simples esquecimento. Sem dúvida, a Miguel de Unamuno (1864-1936) -- ensaísta, poeta, dramaturgo, novelista e "escritor total" -- coube a glória, mas não feita de admiração sem mácula e reconhecimento pleno; sua glória é litigiosa, pugnaz, pródiga em ironia e escândalo, em dúvidas e reconversões.
Publicado em 1913, Do sentimento trágico da vida nos homens e nos povos é a obra em que a inconfundível voz unaminiana ressoa, talvez mais intensa e profundamente; se os gostos de épocas anteriores dificultam "uma leitura calibradamente poética desta peça irritante de reflexão sem medida", os anos transcorridos permitirão uma aproximação mais íntima a essa mensagem de "narcisismo transcendental" desagregado em ânsia de imortalidade e ímpeto.
A ideia principal é abordar a política no tempo de Cícero que reflete aos dias atuais. Qual o melhor tipo de governo e qual se adéqua a uma cidade, uma monarquia, aristocracia e democracia. Cícero demonstra como um governante pode destruir uma sociedade através da tirania, oligarquia e anarquia. O livro é apresentado em forma de diálogo, e o autor tem como referência A República de Platão.
Primeiro livro de um dos maiores filósofos do século XIX, O nascimento da tragédia despertou polêmica pela ousadia da abordagem e pela militância estética em favor de Wagner, mas se tornou uma das obras mais influentes do século XX. A Companhia das Letras o lança agora numa nova tradução, assinada por Paulo César de Souza. Publicado no início de 1872, em meio a controvérsias, O nascimento da tragédia teve grande influência nos estudos sobre a Antiguidade, na filosofia e nas artes do nosso tempo. Estimulado pela metafísica de Schopenhauer e pelas concepções e composições de Richard Wagner, Nietzsche distingue duas correntes na cultura grega, a apolínea e a dionisíaca, e discute a natureza da cultura em geral, a relação entre arte, sofrimento e conhecimento, e as precondições para o ressurgimento da grande arte trágica, que traria consigo a renovação do mundo. A nova edição vem acompanhada do texto ?Verdade e mentira no sentido extramoral?, de 1873, que prenuncia a crítica da razão e da linguagem que Nietzsche desenvolveria em obras da maturidade, e conta com posfácio de André Luís Mota Itaparica.
Não se espere encontrar neste texto o acabamento de uma obra preparada para publicação. Não obstante, este livro é bem rico e fecundo, e não apenas por ser o testemunho da atividade docente de um pensador que marcou a filosofia e a cultura do século XX e que continua bastante atual. A riqueza e fecundidade do texto residem antes em fazer aparecer, de maneira clara, as linhas fundamentais de desenvolvimento do pensamento nietzschiano a partir de uma interpretação de conjunto da filosofia platônica, que era, justamente, venerada, no tempo do jovem Nietzsche, como modelo de profundidade de pensamento e de beleza de estilo.
A mortalidade é condição inescapável para a filosofia. É ela que nos lembra todos os dias o quanto somos imperfeitos e que nos angustia com nossa própria insignificância no mundo. Mas, ao mesmo tempo, é ela que nos motiva a viver plenamente, a tirar o maior proveito de nossa curta estadia neste planeta, a nos tornar melhores a cada dia. Trilhar uma vida com significados não é simples, mas a filosofia está aí para nos ajudar. E é por meio dela que o historiador Daniel Gomes de Carvalho convida à reflexão, mostrando como o conhecimento filosófico nos ajuda a lidar com as questões mais inquietantes da vida: o bem e o mal, o amor, a política, a beleza e os rumos de nossa sociedade. E esse conhecimento, para Daniel, não está apenas nos grandes filósofos da história: está também em nossas séries preferidas, como Game of Thrones, está na música que não sai da nossa cabeça, está naquele quadro de que sempre ouvimos falar, mas nunca entendemos muito bem. A filosofia, essa área de conhecimento tão essencial e ao mesmo tempo tão subestimada, está por toda parte.
Um dos eruditos mais respeitados das últimas décadas comenta a atitude filosófica da figura máxima da cultura alemã. Pierre Hadot, estudioso a quem cabe o mérito de haver redescoberto o aspecto vivencial da filosofia clássica (conforme exposto em A Filosofia como Maneira de Viver e Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga), é autor também de comentários a pensadores modernos nos quais tal caráter é ainda perceptível. Os principais escritos desse gênero são Wittgenstein e os Limites da Linguagem e Não se Esqueça de Viver - Goethe e a tradição dos exercícios espirituais. Neste livro, o último que Hadot publicou em vida, o filósofo aborda ? com o estilo profundo, elegante e agradável que sempre o acompanhou ? três ?exercícios espirituais? (ou seja, práticas de autodisciplina) que o literato alemão cultivou e que ilustram o seu lema, contrário ao Memento mori, ?Não se esqueça do morrer?: Memento vivere, ?Não se esqueça de viver?. As três práticas se reduzem a concentrar-se com intensidade no presente, considerar as circunstâncias em conjunto e cultivar a esperança. Além da investigação cuidadosa de como tais exercícios são sugeridos pela vida e pelos textos de Goethe, o autor observa como a visão que os motiva foi posteriormente endossada por Nietzsche. Uma obra que faz valer o elogio que lhe viria a endereçar Luc Ferry: ?Admirável?
Em um texto forjado pela dor do luto ? uma carta escrita a sua irmã por ocasião do falecimento de seu pai ?, Blaise Pascal oferece dois conceitos-chave para a teoria do pecado original: o amor-próprio, que consiste no direcionamento a si mesmo do amor infinito devido a Deus, e o vazio infinito, isto é, a falta instituída no homem pela queda, somente preenchível pelo Cristo Mediador. Por meio de um estudo meticuloso da Lettre, das demais obras de Pascal ? notadamente, os Pensamentos e os Escritos sobre a Graça ? e dos autores que mais influenciaram o pensamento pascaliano ? Santo Agostinho, Cornelius Jansenius e Saint-Cyran ?, Andrei Venturini Martins demonstra a originalidade do filósofo francês na discussão sobre a origem do mal. Do Reino Nefasto do Amor-Próprio será uma leitura enriquecedora para estudiosos tanto de filosofia como de teologia, e para todos atentos à presença do mal no mundo.
Reconhecido por seus estudos sobre os meios de comunicação na contemporaneidade, o filósofo e educador canadense Marshall McLuhan procura acompanhar a trajetória histórica do trivium e dos elementos que o integram, partindo de suas primeiras formulações até as contribuições presentes no humanismo do romancista e dramaturgo britânico Thomas Nashe no século XVI.
"O livro é de primeira linha. Taylor é um dos melhores filósofos no continente e um dos seus mais atentos políticos. De fato, eu o colocaria entre os doze mais importantes filósofos que escrevem atualmente, em qualquer parte do mundo. Este livro o torna acessível a um público mais amplo. A escrita de Taylor combina aqui, como fez no passado, clareza, vigor e perspicácia, e é legível para qualquer pessoa instruída. Sua tentativa de mediar os incentivadores e críticos é revigorante, original, bastante persuasiva e, na minha opinião, absolutamente bem-sucedida." Richard Rorty Universidade da Virgínia
Esta obra famosa de Werner Jaeger, um dos marcos da cultura do nosso tempo, é o estudo mais profundo e completo sobre os ideais de educação da Grécia antiga. Jaeger estudou a interação entre o processo histórico da formação do homem grego e o proceso espiritual através do qual os gregos chegaram a elaborar seu ideal de humanidade. A partir da solução desta profunda questão histórica e espiritual, foi possível chegar ao entendimento da criação educativa sem par de onde se irradia a imorredoura influência dos gregos sobre todos os séculos.