"Pensei que seria um simples curso para me distrair um pouco. Estava longe de imaginar que naquele momento daria o primeiro passo rumo a uma situação de confusão e incerteza, que abalaria as linhas mestras do meu padrão de ação." Nas palavras de Nissim Castiel, foi assim que se deu seu primeiro contato com o Teatro Escola Macunaíma, por indicação de um professor de oratória. Não pressentia o quanto esse passo mudaria o sentido de sua vida. Esse atraente personagem do mundo dos negócios se transformou em actante central na performance do ensino teatral, passando de aluno a diretor do centro de artes cênicas. Vencendo, nos anos de 1980, com sua experiência no trato das coisas práticas e sua paixão pelas coisas do espírito, os desafios pedagógicos-didáticos e administrativos, e sabendo usar as críticas dos alunos e professores nas mudanças que seriam feitas, proporcionou ao Macunaíma uma qualidade e uma condição que Mário de Andrade jamais sonhara para o seu protótipo: a de ser patrono de uma das melhores e mais conceituadas escolas de teatro do país. É o relato desse percurso que se imprime nas páginas de Nissim Castiel: Do Teatro da Vida Para o Teatro da Escola, abrindo para o leitor as vicissitudes e peripécias de uma biografia em que o autor, lançando-se pelos caminhos da vida em busca de si mesmo, encontra-se no trabalho fundamental e libertador com o outro através das práticas teatrais. São histórias repletas de humor, dramaticidade e ricas em experiência - do teatro com o teatro. J. Guinsburg
Um marido que pede desculpas por ter sido traído pela mulher é o mote desta ?tragédia de costumes? rodriguiana. A pretexto de redimir o irmão, Raul mata a cunhada infiel e passa a vigiar a sobrinha a fim de preservar sua castidade. Mas a jovem Glorinha acaba conhecendo o mundo dos bordéis ao mesmo tempo que prepara uma terrível vingança contra o tio. Polêmica, a peça Perdoa-me por me traíres arrancou aplausos e vaias da plateia na sua estreia, em 1957, e contou com o próprio Nelson Rodrigues como ator, no papel do abjeto tio Raul, na sua primeira temporada.
"O casal Ismael e Virgínia ? ele, negro, ela, branca ? parece viver em desgraça: seus filhos morrem precocemente de forma inexplicável. No dia do enterro da terceira criança, a visita inesperada de Elias, o irmão branco e cego de Ismael, dá início a uma história macabra de desejo e morte que beira a loucura. Com um enredo trágico e polêmico que põe em discussão temas como racismo, estupro e incesto, a peça ""Anjo negro"", escrita em 1946, foi censurada por dois anos até estrear em 1948. Esta edição conta com posfácio do ator, diretor e produtor Rodrigo França, além de um emocionante texto de orelha escrito pela atriz Nicette Bruno, que interpretou a personagem Ana Maria na primeira montagem da peça."
A ?Farsa da Boa Preguiça? compõe a trindade das peças mais representativas da dramaturgia de Ariano Suassuna, junto com o ?Auto da Compadecida? e ?A Pena e a Lei?, e, como elas, bebe na fonte do universo mítico e poético do Romanceiro Popular Nordestino. Montada pela primeira vez em 1961, a peça foi inteiramente escrita em versos, e traz, como um dos seus protagonistas, o poeta popular Joaquim Simão, escritor de cordel, cantador e adepto do ócio criativo ? a boa preguiça de Deus, contrária à preguiça do Diabo. Peça preferida do próprio autor, a ?Farsa? conserva o tom irônico e bem-humorado das comédias de Ariano e é considerada por parte da crítica como ?a súmula de todo o seu teatro?.
Num dia aparentemente normal, Mônica vê sua calcinha escapar do varal e inicia uma corrida insana pelas ruas da cidade atrás de sua fugitiva intimidade. A busca, no entanto, acaba perdendo o sentido e a direção, atravessando tempos e espaços diversos e, como num sonho, misturando e recombinando tudo pelo caminho. Seu namorado vira seu chefe, seu chefe vira seu cachorro, que vira um motorista de ônibus e segue se transformando. É como afirma Mônica: ?Imagino minha calcinha olhando de rabo de olho quando eu esquecia meu zíper aberto. Olhando pro lado de fora do meu short se perguntando qual era a sensação de ver a rua, de ver o sol.? Vivendo numa sociedade que lhe exige alcançar os melhores desempenhos, é na busca por uma calcinha perdida que Mônica encontra maneiras de se livrar de um cotidiano que a sufoca e enclausura. só percebo que estou correndo quando vejo que estou caindo é uma investigação sobre como um fluxo narrativo pode abrir caminhos distintos numa sociedade que tende a padronizar e a moralizar a sensibilidade humana. Escrita por Lane Lopes, esta dramaturgia foi criada durante as atividades da quarta turma do Núcleo de Dramaturgia Firjan SESI (2018) com orientação do dramaturgo e diretor Diogo Liberano.
Em Yellow Bastard, décima e mais recente criação da companhia, é uma ficção científica que busca afirmar o amor em tempos de ódio extremo. A peça, dirigida por Liberano e por Andrêas Gatto, conta a história de um advogado de quarenta e poucos anos que descobre, subitamente, ser um alienígena de pele completamente amarela. O monólogo é encenado por Márcio Machado e a proposta cênica é baseada no corpo e na expressividade do ator, buscando ?uma atuação marcada pelo exagero, utilizando caricaturas e um tom cômico hiperbólico?, como explica Gatto. No livro, são apresentados lado a lado dois textos: a narrativa em prosa de Liberano e o texto dramatúrgico, tal como é dito encenado pelo ator Márcio Machado, e assim apenas as palavras ditas estão em evidência, compondo um desenho próprio ao longo das páginas, oferecendo lacunas e vazios, fazendo com que cada palavra ganhe ainda mais importância e marque seu lugar exato no espaço. ?E riu sonoramente. Riu por décadas inteiras, ali, ancorado em poucas horas. E quanto mais ria, mais sua pele vibrava aquela traição amarela, provedora de outros mundos. Riu de sua inteligência suprema, de sua superioridade tão solitária, riu de cada curva feita, cada letra assinada, riu de seus medos mais mesquinhos, dos dinheiros, dos quilos de ternos e gravatas. Riu, por fim, de tudo aquilo que, em algum momento, o distanciou do único fato que agora o sustentava: ele sempre fora outro ou outra coisa. Sempre fora estranho, excessivo e excepcional. Ele, ouro puro. Pura praga. Descomunal.?
A TRAGÉDIA DE MACBETH (1605) FAZ PARTE DA FASE DE MATURIDADE DE WILLIAM SHAKESPEARE É SUA ÚNICA PEÇA QUE RELACIONA OS FATOS DA SITUAÇÃO HISTÓRICA DA INGLATERRA DO SÉCULO XVI COM A MESTRIA DE TRADUZIR SEU TEMPO SHAKESPEARE NARRA UMA HISTÓRIA PAUTADA NO REGICÍDIO ? O ASSASSINATO DE UM REGENTE A PARTIR DESSE TEMA CENTRAL TRATADO COM IMENSA POÉTICA SHAKESPEARE RELACIONA FATOS VERSA SOBRE OS MODOS E ASPIRAÇÕES DA SOCIEDADE DA ÉPOCA E COM SUA SAGACIDADE MORDAZ NARRA UMA HISTÓRIA COM BASE EM FATOS REAIS A TRAGÉDIA DE MACBETH APRESENTA E DESENVOLVE ELOQUÊNCIA DO MAIOR DRAMATURGO DA LITERATURA E FOI INTEGRALMENTE RECONHECIDA NO SÉCULO XVII GRAÇAS A ROWE POPE E SAMUEL JOHNSON QUE PRODUZIRAM EDIÇÕES DESSE GRANDE CLÁSSICO NA ÉPOCA
"Pensei que seria um simples curso para me distrair um pouco. Estava longe de imaginar que naquele momento daria o primeiro passo rumo a uma situação de confusão e incerteza, que abalaria as linhas mestras do meu padrão de ação." Nas palavras de Nissim Castiel, foi assim que se deu seu primeiro contato com o Teatro Escola Macunaíma, por indicação de um professor de oratória. Não pressentia o quanto esse passo mudaria o sentido de sua vida. Esse atraente personagem do mundo dos negócios se transformou em actante central na performance do ensino teatral, passando de aluno a diretor do centro de artes cênicas. Vencendo, nos anos de 1980, com sua experiência no trato das coisas práticas e sua paixão pelas coisas do espírito, os desafios pedagógicos-didáticos e administrativos, e sabendo usar as críticas dos alunos e professores nas mudanças que seriam feitas, proporcionou ao Macunaíma uma qualidade e uma condição que Mário de Andrade jamais sonhara para o seu protótipo: a de ser patrono de uma das melhores e mais conceituadas escolas de teatro do país. É o relato desse percurso que se imprime nas páginas de Nissim Castiel: Do Teatro da Vida Para o Teatro da Escola, abrindo para o leitor as vicissitudes e peripécias de uma biografia em que o autor, lançando-se pelos caminhos da vida em busca de si mesmo, encontra-se no trabalho fundamental e libertador com o outro através das práticas teatrais. São histórias repletas de humor, dramaticidade e ricas em experiência - do teatro com o teatro. J. Guinsburg
Falar do poder cênico de Édipo Rei de sua performance em um teatro em ato, é, aqui, no Brasil, considerá-lo sobretudo em português, quer dizer, em uma tradução e no que ela se mostra capaz não só de restituir, como de vivificar, quando colocada nos lábios de uma ator que se exprime nesta língua e que deve fazer falar o seu gesto, a sua linguagem representativa neste mesmo idioma, sem perder a relação com a fala de origem, no caso o grego. E tal é justamente uma das preocupações fundamentais de Trajano Vieira na sua marcante transcriação da peça de Sófocles, que vem integrar a Coleção Signos da Editora Perspectiva.
A experiência de Machado de Assis com o teatro, de 1859 a 1906, permite antever alguns dos ingredientes sistematizados na prosa de seus contos e romances. Como dramaturgo, desde muito jovem optou pelo drama realista em lugar da tradição romântica, representada até então por Martins Pena, Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar. As peças reunidas neste volume permitirão ao leitor descobrir traços bastante característicos de Machado. Esta antologia é composta pelas seguintes peças- 'Desencantos'; 'O caminho da porta'; 'O protocolo'; 'Os deuses de casaca'; 'Tu só, tu, puro amor'.