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Filho de uma escrava liberta e um tipógrafo,
Lima Barreto nunca teve em vida
o reconhecimento que a sua obra merecia.
Isso talvez se justifique, ao menos em
parte, pela repercussão de Recordações do
escrivão Isaías Caminha na sociedade carioca.
Ao ambientar o personagem numa
redação de jornal, Lima Barreto trata de
maneira impiedosa a classe jornalística,
que respondeu aos insultos banindo
o autor da imprensa carioca. E, embora
tenha sido publicada em 1909, em meio
ao otimismo pós-Lei Áurea, a história de
Isaías mostra um cotidiano bastante cruel
para os negros. O jovem é culto e inteligente
mas isso não basta para que ele seja
inserido na sociedade, pois será esmagado
pelo preconceito racial.
Resgatando a atualidade de Lima Barreto
sob o viés da crítica literária, Alfredo
Bosi defende na introdução do livro que
Recordações é um dos grandes romances
da literatura brasileira.
Essa edição traz também um prefácio
de Francisco de Assis Barbosa, historiador
que fez um importante estudo sobre o autor,
valendo-se de dados biográficos e contextualizando
o livro à época em que foi
publicado. E, ainda, mais de cem notas elaboradas
por Isabel Lustosa, que comenta
fatos históricos e nos revela quem eram as
pessoas e os lugares retratados no livro.