nullEscrever um livro nunca foi problema para Roberto Drummond. Ele nos brindou com várias obras, sempre recheadas de talento. Falou sobre o cotidiano, fez biografias, escreveu romances. Mas um sonho não foi realizado. Apaixonado por futebol e, acima de tudo, pelo Atlético, ele, cronista esportivo desde 1º de junho de 1969, quando assumiu a coluna "Bola na Marca" no jornal Estado de Minas, sempre idealizou um trabalho sobre o futebol. A chance veio com o convite para escrever o livro sobre o Galo na coleção "Camisa 13". O seu entusiasmo na época foi muito grande. Era a realização do sonho que carregava havia décadas. Mas esse sonho foi interrompido naquele 21 de junho de 2002. A Editora Leitura traz não só para os torcedores do Clube Atlético Mineiro, mas também para todos os admiradores dessa fanática e fiel torcida alvinegra esta seleção de crônicas que é mais que uma homenagem a Roberto Drummond. É o livro de futebol que ele nunca publicou e sobre o seu grande amor: o Atlético. Uma Paixão em Preto e Branco reúne as melhores crônicas do autor nos momentos marcantes da trajetória do clube, que, com certeza, vai emocionar todos os atleticanos do Brasil.
"O texto de Clarice Lispector costuma apresentar ilusória facilidade. Seu vocabulário é simples, as imagens voltam-se para animais e plantas, quando não para objetos domésticos e situações da vida diária, com frequência numa voltagem de intenso lirismo. Mas que não se engane o leitor. Em poucas linhas, será posto em contato com um mundo em que o insólito acontece e invade o cotidiano mais costumeiro, minando e corroendo a repetição monótona do universo de homens e mulheres de classe média ou mesmo o de seres marginais. Desse modo, o leitor defronta-se com a experiência de Laura com as rosas e o impacto de Ana ao ver o cego no Jardim Botânico. Pequenos detalhes do cotidiano deflagram o entrechoque de mundos e fronteiras que se tornam fluidos e erradios, como o que é dado ao leitor a compreender acerca da relação de Ana, seu fogão e seus filhos, ou das peregrinações de uma galinha no domingo de uma família com fome, ou do assalto noturno de misteriosos mascarados num jardim de São Cristóvão. E, como se pouco a pouco se desnudasse uma estratégia, o cotidiano dos personagens de Laços de família, cuja primeira edição data de 1960, vai-se desnudando como um ambiente falsamente estável, em que vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de súbito, justo quando o dia a dia parecia estar sendo marcado pela ameaça de nada acontecer. Nesta coletânea de contos, os personagens ? sejam adultos ou adolescentes ? debatem-se nas cadeias de violência latente que podem emanar do círculo doméstico. Homens ou mulheres, os laços que os unem são, em sua maioria, elos familiares ao mesmo tempo de afeto e de aprisionamento. ? LUCIA HELENA, Pós-Doutorada em Literatura Comparada pela Brown University, EUA, e autora do livro Nem musa, nem medusa: Itinerários da escrita em Clarice Lispector"
Octavio Paz, ganhador do Nobel de Literatura (1990), agrupou sua produção literária de 1949 na obra Areias Movediças, que chega ao Brasil publicada pela SESI-SP Editora. São dez contos que expõem uma característica marcante do autor: habilidade em escrever com uma linguagem fascinante, poética e lírica. As ilustrações contidas no livro são de Gabriel Pacheco. As imagens, sempre em tons de azul e cinza, proporcionam grande conexão com o texto.
Em Asas para o céu, a autora nos apresenta o seu universo literário em dose dupla: prosa e poesia. A começar pelo título do livro, a sensação é de que a sua escrita volta-se para um sentimento de liberdade, de desapego e de fluidez na tecelagem das palavras. Ao lermos seus versos, sentimos ali um hino, uma forma de ver e cantar a vida, de encantar o leitor com sua expressão acolhedora. Na prosa, revela-se pelo humor fino e pela forma detalhada de contar uma história, de conduzi-la, e assim prender o leitor até o seu desfecho, que por vezes fica em aberto, latente em nosso pensamento.
Iluminada pela poesia de Cecília Meireles, a obra em prosa romanceia acontecimentos históricos do final da década de 1780. O poema (na verdade formado por vários poemas que também podem ser lidos isoladamente) recria os dias repletos de angústias e esperanças da época, em que um grupo de intelectuais mineiros no fim do século XVIII sonhou se libertar do domínio colonial português e do desastre que se abateu sobre as suas vidas e a de seus familiares. Em Romanceiro da Inconfidência, Cecília associa a verdade histórica com tradições e lendas. Utilizando a técnica ibérica dos romances populares, atenta para os autos do processo, as cartas, aos testamentos, a pintura, às modinhas, as estátuas de profetas de Aleijadinho. A poeta recria com intensa beleza o cotidiano, os conflitos e os anseios daquele grupo de sonhadores.
Gregório de Matos é, historicamente, o primeiro grande poeta do Brasil. Sua obra, talvez a mais importante produzida pelo Barroco poético nas Américas portuguesa e espanhola, conserva ainda hoje grande parte de seu interesse, por força, sobretudo, da agudeza e do vigor com que o poeta soube fixar satiricamente, numa linguagem vivaz que já deixa transparecer o gênio local na exploração de sonoridades africanas e tupis e que, na sua mordacidade feroz, não recua nem diante da pornografia, a dissolução de costumes da Bahia do século XVIII.