Em Yellow Bastard, décima e mais recente criação da companhia, é uma ficção científica que busca afirmar o amor em tempos de ódio extremo. A peça, dirigida por Liberano e por Andrêas Gatto, conta a história de um advogado de quarenta e poucos anos que descobre, subitamente, ser um alienígena de pele completamente amarela. O monólogo é encenado por Márcio Machado e a proposta cênica é baseada no corpo e na expressividade do ator, buscando ?uma atuação marcada pelo exagero, utilizando caricaturas e um tom cômico hiperbólico?, como explica Gatto. No livro, são apresentados lado a lado dois textos: a narrativa em prosa de Liberano e o texto dramatúrgico, tal como é dito encenado pelo ator Márcio Machado, e assim apenas as palavras ditas estão em evidência, compondo um desenho próprio ao longo das páginas, oferecendo lacunas e vazios, fazendo com que cada palavra ganhe ainda mais importância e marque seu lugar exato no espaço. ?E riu sonoramente. Riu por décadas inteiras, ali, ancorado em poucas horas. E quanto mais ria, mais sua pele vibrava aquela traição amarela, provedora de outros mundos. Riu de sua inteligência suprema, de sua superioridade tão solitária, riu de cada curva feita, cada letra assinada, riu de seus medos mais mesquinhos, dos dinheiros, dos quilos de ternos e gravatas. Riu, por fim, de tudo aquilo que, em algum momento, o distanciou do único fato que agora o sustentava: ele sempre fora outro ou outra coisa. Sempre fora estranho, excessivo e excepcional. Ele, ouro puro. Pura praga. Descomunal.?
O MARINHEIRO É UMA PEÇA DE TEATRO, CHAMADA PELO PRÓPRIO FERNANDO PESSOA DE ESTÁTICA, POR NÃO HAVER GRANDE MOVIMENTAÇÃO DE PERSONAGENS. SÃO QUATRO PERSONAGENS NUM AMBIENTE, DE ONDE SE AVISTA O MAR (TRÊS VELADORAS, SEM PERSONALIDADES DISTINTAS E UMA MORTA SENDO VELADA). HÁ TAMBÉM O PRÓPRIO MARINHEIRO DO TÍTULO, REFERIDO EM SONHO PELA SEGUNDA VELADORA.
A PEÇA FOI ESCRITA EM APENAS UM DIA E PUBLICADA ORIGINALMENTE NO PRIMEIRO NÚMERO DA REVISTA ORPHEU EM 1915, A QUAL MARCOU O INÍCIO DO MODERNISMO EM PORTUGAL. A CAPA DESSE NÚMERO ERA COMPOSTA POR UMA MULHER NUA ENTRE DUAS VELAS, FAZENDO ALUSÃO ÀS VELADORAS DA PEÇA.
A PEÇA É ANTES PARA SER LIDA QUE INTERPRETADA E SEGUE A LINHA DISCURSIVA PRESENTE NO LIVRO MENSAGEM, DO PRÓPRIO PESSOA, EM QUE SE LÊ NA PRIMEIRA PARTE, SEÇÃO OS CASTELOS, UM POEMA DEDICADO A ULISSES, O HERÓI DA ODISSEIA, O QUAL, SEGUNDO O MITO, TERIA FUNDADO AS ORIGENS DA CIDADE DE LISBOA.
Cédric, Julien e sua equipe decidem montar, em 2016, um espetáculo a partir do romance Nossa Senhora das Flores. No decorrer dos ensaios, a obra-prima do escritor maldito Jean Genet os atinge como uma flecha: em seu isolamento dentro de uma cela de cadeia no início da década de 1940, o autor fala diretamente com os atores que decidiram levar o texto ao palco tantos anos depois. Através de personagens como a travesti Divine e de seus amantes ? Mignon, Nossa Senhora das Flores, Alberto ?, estabelece-se um intenso jogo ficcional, especular, em que os integrantes de uma companhia de teatro contemporâneo vivem na carne as angústias, os desejos e a marginalização de uma sexualidade que Genet soube, com ninguém, explorar.
A TRAGÉDIA DE MACBETH (1605) FAZ PARTE DA FASE DE MATURIDADE DE WILLIAM SHAKESPEARE É SUA ÚNICA PEÇA QUE RELACIONA OS FATOS DA SITUAÇÃO HISTÓRICA DA INGLATERRA DO SÉCULO XVI COM A MESTRIA DE TRADUZIR SEU TEMPO SHAKESPEARE NARRA UMA HISTÓRIA PAUTADA NO REGICÍDIO ? O ASSASSINATO DE UM REGENTE A PARTIR DESSE TEMA CENTRAL TRATADO COM IMENSA POÉTICA SHAKESPEARE RELACIONA FATOS VERSA SOBRE OS MODOS E ASPIRAÇÕES DA SOCIEDADE DA ÉPOCA E COM SUA SAGACIDADE MORDAZ NARRA UMA HISTÓRIA COM BASE EM FATOS REAIS A TRAGÉDIA DE MACBETH APRESENTA E DESENVOLVE ELOQUÊNCIA DO MAIOR DRAMATURGO DA LITERATURA E FOI INTEGRALMENTE RECONHECIDA NO SÉCULO XVII GRAÇAS A ROWE POPE E SAMUEL JOHNSON QUE PRODUZIRAM EDIÇÕES DESSE GRANDE CLÁSSICO NA ÉPOCA
Entre o teatro e o cinema: Experiência performativa tem como cerne de investigação realizar uma análise sobre a fronteira existente entre Teatro e Cinema na montagem dos Filmes de Teatro, elaborados por inúmeros diretores na contemporaneidade. A unidade de análise será realizada a partir da dualidade teórico/prática sobre a influência que o processo criativo de outro artista, neste caso o Filme de Teatro Performativo do italiano Romeo Castellucci - Tragédia Endogonídia, me moveu para desdobrar experiências práticas e perceptivas no desenvolvimento do meu trabalho como atriz/performer. É a partir das percepções subjetivas do meu olhar frente à obra filmada, que sou levada a investigar pontos de convergência e divergência entre os dois fazeres artísticos. O olhar fenomenológico sobre o Filme de Teatro Performativo Tragédia Endogonídia foi o impulsionador para iniciar o processo criativo, dentro da linguagem performática, no projeto de montagem da instalação de Metamorfoses de Ofélia. Desta maneira, busco verificar como se dá a hibridação das duas linguagens artística Teatro e Cinema, por meio da experiência teórico/prática. Esta análise tem como fio norteador o processo criativo e posterior filmagem da instalação Metamorfoses de Ofélia. Um segundo aspecto a ser analisado, levando em conta os resultados obtidos pela apresentação e filmagem da instalação, é a diferença de percepção que existe entre o presenciar ao vivo uma performance e presenciar virtualmente a mesma arte, que agora é recebida por meio do cinema.
Falar do poder cênico de Édipo Rei de sua performance em um teatro em ato, é, aqui, no Brasil, considerá-lo sobretudo em português, quer dizer, em uma tradução e no que ela se mostra capaz não só de restituir, como de vivificar, quando colocada nos lábios de uma ator que se exprime nesta língua e que deve fazer falar o seu gesto, a sua linguagem representativa neste mesmo idioma, sem perder a relação com a fala de origem, no caso o grego. E tal é justamente uma das preocupações fundamentais de Trajano Vieira na sua marcante transcriação da peça de Sófocles, que vem integrar a Coleção Signos da Editora Perspectiva.
Considerado o mais influente dramaturgo de todos os tempos e o maior escritor da literatura inglesa, William Shakespeare (1564-1616) escreveu poemas, comédias, tragédias e dramas históricos que foram traduzidos para os principais idiomas do mundo. Sua obra teatral, conservando toda a complexidade, mistério e encantamento no curso do tempo, é perma-nentemente representada no teatro e transposta para o cinema e televisão. Hamlet, a tragédia do triste príncipe da Dinamarca enredado em intrigas, traições e vinganças, é uma das peças mais conhecidas e apreciadas do Bardo de Avon. Muitos estudiosos se debruçam sobre esta obra, que pode ser examinada e interpretada por diferentes perspectivas, tendo sido como objeto de estudo para Freud e Lacan, e inspirado escritores notáveis, como Goethe, Joyce e Dickens, entre outros.
O ciúme ganhou dimensão clássica a partir de Otelo, que é personagem citado sempre como seu grande símbolo. Shakespeare vai fundo ao construir esta tragédia em que explora várias faces da alma humana. O pérfido Iago conduz Otelo a um ciúme infernal e enlouquecedor. O bravo mouro, veterano de terríveis batalhas e representante militar do reino de Veneza, capitula diante do mais mesquinho sentimento em relação à bela Desdêmona...
Sófocles (495 a.C. - 406 a.C.) nasceu e morreu em Atenas, na Grécia, e foi um dos maiores intelectuais da antigüidade clássica. Autor prolífico e consagrado em seu tempo, produziu cerca de 120 peças das quais restaram conservadas apenas sete, entre as quais, Antígona, Ajax, Electra e Édipo Rei, talvez a mais célebre de todas as tragédias.
Atormentado pela profecia de Delfos, de que iria matar o pai e desposar a mãe, Édipo tenta inutilmente fugir de seu destino...