Receba o produto que está esperando ou devolvemos o dinheiro.
Alexander Cleave é, ou costumava ser, um ator. Agora, aos cinquenta anos de idade e segundo suas próprias palavras, é um homem adulto numa casa assombrada, obcecado pelo passado. O fato é que ele abandonou os palcos num rompante, quando uma apresentação rumava para o seu clímax, para, depois, isolar-se na casa em que cresceu e se entregar a uma sucessão de dias vazios, os quais parecem feitos metade de tempo e metade de memória. Neste romance ímpar, de tom lírico, o irlandês John Banville parece ressaltar a todo instante que o isolamento de Cleave é superficial ou, melhor dizendo, apenas aparente. De fato, seu narrador-protagonista está o tempo todo soterrado por uma multidão fantasmagórica, com a qual procura dialogar, ainda que sua esposa Lydia faça questão de frisar: Você é teu próprio fantasma. Assim, como se estivesse condenado a passar seus dias revolvendo palavras, frases avulsas, fragmentos de memória, Cleave não se distancia, mas acaba por mergulhar nos outros, em Lydia, na filha Cass e, claro, nos que partiram ou estão prestes a partir. Cass, que sofre de uma enfermidade similar à esquizofrenia, é uma ausência opressora, a única pessoa capaz de resgatar o pai de sua idealizada tentativa de autoexílio para algo aterradoramente real.