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No final de 1974, um grupo de jovens de Salvador distribui pelas ruas o panfleto de um novo bloco carnavalesco, com uma foto de três negros numa rua de Lagos, na Nigéria, e os dizeres Nós somos os africanos na Bahia. Surgia assim o Ilê Aiyê: mais do que um bloco de carnaval, um movimento cultural e social que seria responsável não só pela reinvenção do carnaval da Bahia, mas por lançar um novo olhar sobre as relações raciais no Brasil. Em Ilê Aiyê: a fábrica do mundo afro, o antropólogo francês Michel Agier, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, investiga os múltiplos significados dessa frase e desse carnaval que deslocavam tanto o imaginário do que era a África como do que era então a cidade de Salvador. Com base numa intensa pesquisa, realizada ao longo de várias décadas, o autor analisa as condições que deram origem e viabilidade ao movimento, situando-as no contexto dos debates sobre raça, cultura e modernidade em nosso país, ao mesmo tempo em que acompanha de perto os cinquenta anos de existência do Ilê. Enriquecido pelas reflexões de Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, no posfácio, e 35 fotografias de Milton Guran - elas próprias um documento antropológico de excepcional qualidade estética -, o resultado é um livro vivíssimo, que diz respeito não apenas à cultura afro-baiana, mas interroga também o devir de outras culturas diaspóricas ao redor do globo.