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Romance de estreia da historiadora Margaret Bakos. Pelo jeito, ela veio para ficar em literatura. O que se encontra nestas poucas dezenas de páginas? Uma escrita concentrada, sempre com a corda esticada ao máximo, nenhuma linha perdida, sem excessos, tudo sob medida para a necessidade da história. Os obcecados por definições de gênero entrarão num debate estéril: romance ou novela? Talvez seja o caso de a autora se preparar para responder como Machado de Assis a Capistrano de Abreu: "As Memórias Póstumas de Brás Cubas são um romance?" O próprio personagem narrador defunto respondia "que sim e que não, que era romance para uns e não o era para outros".
Assunto, portanto, muito bem resolvido. Margaret Bakos usa os seus conhecimentos históricos, sem sobrecarregar a narrativa com um discurso de autoridade, para contar a vida de um escriba egípcio. O leitor viajará ao Egito antigo, aprenderá sobre os seus costumes, Margaret Bakos tomará conhecimento das múltiplas atribuições de um escriba, viverá com ele e sua família angústias, temores e expectativas. Entrará em palácios, experimentará o clima místico, sentirá a presença do faraó, entenderá que cada povo pode viver uma realidade, esse é o termo, capaz de parecer irreal a outros. Não darei qualquer spoiler - palavra que se impôs e apavora resenhistas e prefaciadores - para evitar a quebra do mistério da obra. Direi apenas que vale investir num pacto de leitura. A escritora, sem nada prometer, entrega reflexão, emoção e alegria.
Como assim alegria? Um texto de ficção nunca deixa de ser uma proposta séria de entretenimento a ser conferida na hora. Se for bom, proporciona a alegria da leitura, a satisfação dos sentidos, o contentamento da alma, supondo que ela existe ou que denomina essa parte de nós que não localizamos, mas sentimos, e que guarda possivelmente o mais importante do que somos. Ouso dizer, nossa essência. Fui pego pela narrativa desde este primeiro parágrafo tão conciso quanto convidativo: "Dhutmose era um escriba qualificado que trabalhava na vila de Deir el-Medina, no Alto Egito. Ocupava o posto mais importante do lugar, o que lhe dava o título de Escriba da Tumba". O resto foi seguir o fio da navalha e a densidade do texto. O Padre Vieira teria dito depois de uma longa carta, "não tive tempo de ser breve". Eu serei. A concisão do livro me obriga a ser econômico. Creio que o leitor é que se permitirá esbanjamentos. Juremir Machado da Silva Escriba amador