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Deus pode ser assunto de uma conversa? Podemos colocá-lo na mesma categoria da previsão do tempo e do placar de um jogo de futebol? Não seria melhor discuti-lo de maneira erudita, torná-lo um belo conceito teológico, situá-lo entre as antinomias de Kant e as genealogias de Nietzsche? A boca que acabou de dizer: ?Você poderia me passar o sal?? ou ?Como você é linda, Mônica! Vamos entrar e beber algo?? está autorizada a se pronunciar sobre o divino? Mais do que isso: pode o termo ?Deus? ser uma palavra entre outras numa frase ? ainda que uma palavra com destaque, ainda que escrita com letra maiúscula? O Infinito cabe em quatro letras banais? Isso não o diminui justo quando afirmamos exaltá-lo? Não é um modo de disfarçar que o que gostaríamos mesmo era de nos livrar dele de uma vez?
Pelo menos dois tipos de pessoas não se preocupam com essas dificuldades: os fundamentalistas e os ateus. Ambos falam sobre Deus a torto e a direito. Tanto que dois outros tipos se insurgem contra tal arrogância: o agnóstico e o religioso escondido. Ambos decidem não falar sobre isso. Mas há quem não se ache entre essas quatro facções. Aqueles para quem não podemos falar de Deus, porém menos ainda podemos permanecer calados. E aqui estão eles, gaguejando, tartamudeando, balbuciando, como clowns que devem testemunhar o que os ultrapassa... São enviados como arautos do ?Reino? e, no entanto, podem ser vistos por aí, fazendo compras no supermercado mais próximo. São chamados de ?luz do mundo?, mas dependem de um interruptor para acender a lâmpada de seus próprios quartos. Finalmente, sabem-se filhos do Deus infinito e, mesmo assim, são filhos da Lúcia, do Fernando: finitos, demasiadamente finitos.