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Com Lutas de classes na Rússia, volume inédito de escritos de Marx e Engels sobre a Rússia, o leitor tem acesso a aspectos da obra de Marx e de Engels pouco conhecidos e estudados. Para o sociólogo Michael Löwy, que organiza a seleção de textos, escritos entre 1875 e 1894, e assina a introdução, o livro evidencia 'uma verdadeira 'virada' metodológica, política e estratégica, que antecipa, de forma surpreendente, os movimentos revolucionários do século XX'. Para ajudar na leitura, a obra traz notas e explicações extraídas do programa alemão de recuperação dos manuscritos de Marx e Engels, a MEGA-2.'Ao discutir as comunas rurais e as características específicas da Rússia no século XIX, Marx e Engels desenvolvem um arcabouço interpretativo avesso à tendência economicista e eurocêntrica que estigmatizou o dito 'marxismo vulgar'. Nas palavras de Milton Pinheiro, que assina a orelha do livro, Lutas de classes na Rússia 'abre uma nova perspectiva de pesquisa para a reflexão marxista'. Para Löwy, os escritos que compõem este volume apresentam além da coerência temática - quase um prenúncio às bases sociais da futura Revolução Russa, uma singular unidade 'filosófica': salientam uma dialética revolucionária essencialmente em ruptura com a ideologia burguesa do progresso, sugerindo uma concepção da história 'perfeitamente herética' em relação à Segunda Internacional.Lutas de classes na Rússia é ainda de especial interesse para o público leitor brasileiro na medida em que inova na compreensão da condição periférica. A partir de sua 'Carta à redação da Otechestvenye Zapiski', de 1877, Marx esboça uma perspectiva dialética e policêntrica, que admite uma multiplicidade de formas de transformação histórica, e sobretudo, a possibilidade de que as revoluções sociais modernas comecem à margem do sistema capitalista e não, como afirmavam alguns de seus escritos anteriores, no centro.A pedra de toque desta edição é um raro texto do historiador, filólogo e militante marxista ucraniano David Riazanov (David Borissovitch Goldendach). Louvado por Milton Pinheiro como 'um registro histórico de magistral envergadura', o texto discute a troca de cartas entre Marx e a revolucionária Vera Ivanovna Zasulitch. Fortemente impressionado com sua interlocutora russa, Marx preparou quatro esboços - todos incluídos nesta edição - antes de redigir sua resposta, em 1881. Discutindo a relação entre O capital e a situação russa, Marx desvincula a revolução socialista de um patamar necessário de desenvolvimento das forças produtivas, ao afirmar que seus estudos sobre a acumulação primitiva feitos para O capital dizem respeito ao percurso histórico da Europa ocidental, em particular da Inglaterra.