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O encontro do interiorano com a Corte era fonte infindável de pilhérias no Brasil do século XIX. No teatro de Martins Pena, por exemplo. Em O juiz de paz da roça, José quer seduzir Aninha, carregá-la consigo para a cidade, logo fala muito do 'que é que há lá tão bonito': três teatros, homem que vira macaco, mágica com muito maquinismo, cosmorama na rua do Ouvidor, cabrito com duas cabeças, porco com cinco pernas. O caiporismo também marcava presença naquele tempo. Como na literatura de Machado de Assis, nada menos. Num conto, 'Último capítulo', o protagonista e narrador da estória define o caipora - ele próprio - como o sujeito que, ao cair de costas, consegue quebrar o próprio nariz! Para saber como, vá ler o conto, que está em Histórias sem data, pois vale muito a pena. Nhô Quim é ao mesmo tempo roceiro e azarado. Jovem de vinte anos, filho 'de gente rica porém honrada', vai parar na Corte porque o pai não aprova o seu namoro com donzela virtuosa mas sem vintém. Está criado o entrecho para as situações embaraçosas e chistes sem fim de As aventuras de Nhô Quim, ou impressões de uma viagem à Corte. Veem-se as imagens com aquela sensação de dó da vergonha alheia, pobre Nhô Quim, que perde o trem, sai à rua de saia, não acha mais o moleque que lhe devia servir, vira capanga eleitoral. A graça das imagens, a aparente falta de pretensão de tudo, é uma janela ímpar para a observação da cultura e da sociedade do Brasil imperial. A 'gente rica' não parece honrada, apega-se à escravidão, corrompe eleições, há espertalhões por toda parte. O posfácio de Marcelo Balaban e Aline dell'Orto oferece um panorama primoroso da arte das publicações ilustradas no Brasil oitocentista. O caiporismo de Nhô Quim é a sorte grande de seus leitores. (Sidney Chalhoub)
CARACTERÍSTICAS
Formato
BROCHURA
Número de Páginas
200
Subtítulo
OU IMPRESSOES DE UMA VIAGEM A CORTE: ROMANCE ILUSTRADO