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Historias da imaginação popular no contexto de Maringá.
O universo em que somos jogados ao ler as primeiras linhas de O contador de causos, da historiadora Loide Caetano, é um microcosmo que está, infelizmente, em extinção. Não digo em tom saudosista de um passado do qual se esquece, intencionalmente, das mazelas de um idílio. Mas afirmo, sobretudo, porque as histórias desse livro advém de uma prática muito cara à literatura de livro: a oratura, ou literatura oral.
O recém-publicado livro, fruto de um lindo e competente trabalho de edição da editora maringaense AR Publisher, é dividido em três partes. Na primeira, a voz de professora de Caetano assume a função de guia. Conduz o leitor para uma viagem à história da cidade de Maringá, sobretudo nos seus primeiros anos e fundação. Faz isso, com bastante didatismo, para apresentar o personagem principal de sua obra: seo Zico Borghi, uma figura icônica da cidade.
Na segunda parte, o tom é menos professoral e mais literato. A autora fez uma série de entrevistas com o pioneiro, icônico na cidade por ser o organizador, há décadas, da maior festa junina da cidade ? em louvor a Santo Antônio, São João e São Pedro. A festa se tornou patrimônio da cidade e já rendeu, como o próprio contador de causos diz, muitos casamentos ao longo dos anos.
Na terceira parte, Loide Caetano cede a voz diretamente ao seo Zico Borghi que, ao seu modo, faz uma literatura de forte cunho popular, com uma linguagem regional, colorindo ainda mais o livro. Livro que é exatamente isso, uma mistura de relato, conto biográfico, causo, história oficial, história popular, poesia oral.
Zico Borghi chegou na região nos primórdios da cidade e viveu sempre na zona rural. Conservou um elemento fortíssimo na cultura brasileira, o do contador de histórias e causos populares, a maioria baseada em fatos sobrenaturais, com um tom hiperbólico tão típico das histórias de pescador ? uma comparação com Alexandre e outros heróis, de Graciliano Ramos é quase inevitável.
As histórias são das mais variadas e trazem personagens reconhecíveis: a mula sem cabeça, tão fortemente difundida no folclore nacional; o lobisomem, figura importada que encontrou campo fértil na nossa cultura; o cavalo de cabeça invertida, que foi sem querer decapitado por Borghi e teve a cabeça recolada ao contrário; uma onça que fora montada confundida com um cavalo; uma sucuri protetora que luta com uma onça para proteger o menino Borghi, entre outras.
Na parte histórica, a condução é impecável. O conhecimento e o didatismo dessa professora-escritora são elementos caros à narrativa. Na segunda parte, entretanto, embora o tom didático baixe um pouco, ele ainda está lá. Algumas repetições poderiam, também, ser evitadas. Entretanto, tais observações não chegam a comprometer o texto e a leitura.
Ademais, se pensarmos em um público infanto-juveni.
