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PREVISÃO DE LANÇAMENTO: 03/08/2025. Machado de Assis volta e meia encontrou no mundo animal a inspiração para contos e crônicas. Alguns desses textos, publicados num intervalo de quase quatro décadas, estão reunidos de forma inédita em Na arca: Machado de Assis e os animais, edição especial organizada por Fabiane Secches e Maria Esther Maciel e ilustrada por Gê Viana. Nesta coletânea, o cão, o burro, o gato, o rato, o canário e diversos outros bichos, que chamavam a atenção do escritor naquele Rio de Janeiro da segunda metade do século 19, são postos em cena como personagens principais e sob enfoques inusitados. Com muito de presciência, Machado de Assis 'abriu os caminhos para que fosse delineada [ ... ] toda uma linhagem de escritores atentos não apenas à importância das vidas não humanas e à complexidade das conexões entre homens e animais, como também à necessidade de se reinventar a própria noção de humanidade', como afirma Maria Esther Maciel no posfácio do livro. Arguto observador de sua época, que experimentava o avanço das ciências, o triunfo do racionalismo antropocêntrico e a revolução darwinista, o escritor dedicou muitas páginas ao registro da situação dos animais na sociedade dos homens. Assim, por exemplo, fez o elogio do vegetarianismo, registrou com frequência a crueldade das vivissecções realizadas nos laboratórios científicos, indignou-se com a exploração da força animal no trabalho e manifestou simpatia pelas sociedades protetoras de animais. Sem função edificante, como nas fábulas tradicionais, os bichos de Machado se expressam como se pudessem empregar a linguagem verbal e os saberes científicos da época. Assim é, por exemplo, no conto 'Ideias de canário', em que o pássaro questiona o olhar humano sobre a natureza, e na crônica 'Conversa de burros', em que uma dupla de puxadores de bonde trava um diálogo filosófico sobre a exploração imposta pelos homens. Os cães também marcam presença em outros textos da coletânea, como 'Miss Dollar' e 'Um cão de lata ao rabo', assim como os felinos, que aparecem também na simpática carta escrita por Machado colocando-se na pele de um gatinho preto. Como resumiu Maria Esther Maciel: 'Na arca de papel machadiana, os bichos - com seus saberes, sentimentos, pensamentos, agruras e indignações - circulam soltos pelas páginas, desafiando a própria ideia de confinamento e desestabilizando a suposta superioridade do homo sapiens em relação a criaturas de outras espécies'.