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Em uma época onde o excesso de velocidade e a entropia da informação tomaram o lugar dos pores do sol e das vozes das árvores se passa a história. Uma era em que o tempo adotou um estranho passar e rouba impiedosamente a vida como nada fosse; nem bem se começa um novo ano e o natal já se avizinha novamente; e esse correr apressado, cheio das futilidades que tornam os dias vazios e sem sentido, acabam por tomar o lugar da felicidade e da realização pessoal; ele vive na "era do sono", mas mesmo sabendo disso não consegue despertar. Um homem comum, como esses dos quais o mundo é feito, correndo atrás da sobrevivência como todos correm, cada vez mais tomado por valores que, soubesse como, trataria de rejeitar; discípulo de reality shows e telenovelas, escravo de extratos bancários e planilhas. Certa ocasião, em meio ao fluxo de tudo que nunca lhe importou de verdade, sua vida passa por uma profunda mudança e ele se vê diante da escolha que por tantos anos postergou. E ele escolhe.
A partir daí, com um tanto de sorte e muito trabalho, passa a trilhar caminhos que nem sonhava serem possíveis e a redescobrir uma existência prazerosa baseada no simples e no real; pinta quadros, sobe montanhas, joga fora o telefone celular e a televisão, constrói jardins, "no mais puro espírito do escapismo romântico". Nessa jornada, acaba por abandonar a cidade, numa tentativa de fugir da velocidade mesmerizante e, um dia, chega a uma tal lagoa onde, em contatos com elementos de imensa força, seus talentos acabarão por ser apurados e sua alma engrandecida.
A cada novo amanhecer, sua dedicação o leva a vislumbrar horizontes há muito esquecidos e a enxergar novamente seus próprios olhos; pouco a pouco ele começa a despertar do sono do mundo em meio a tudo quanto lhe parecia perdido, ingressando em um modo de viver que poucos conhecem; e voltam a seus céus estrelas há muito ocultas, e voltam a seus ouvidos canções há muito desaparecidas, e todas suas novas luzes lhe dão forças para seguir rumo a seu novo grande objetivo, o "novo sonho" do qual então já não poderia prescindir. Caminhando novas estradas, cruzando com pessoas parecidas com ele que o ajudam e recebem sua ajuda, com um novo brilho no olhar, continuará sua busca por seu "sonho", mesmo que isso o leve a cruzar oceanos de água ou tempo, pois que já não pode mais parar. Existem perigos na viagem, mas ele vai perceber que o principal não lhe pode ser subtraído: a escolha. E os resultados serão esplêndidos.
Nesse discurso, o leitor é levado por Dois Céus, local principal do romance, e não sairá impune dos grandes mistérios da lagoa. O monólogo traz sua pessoalidade pungente e o realismo fantástico fala da mágica do planeta e permite que a denúncia não caia no texto azedo ou cansativo, ao mesmo tempo que retira das linhas o tom adolescente que normalmente vem junto com textos de pura fantasia.