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PREVISÃO DE LANÇAMENTO: 15/12/2025. - Calma, afoita leitora! Como estamos cruzando a áspera, inabitada e gélida estepe
da verdade, é preciso muito cuidado para vermos onde pomos nossos borzeguins.
- Como posso me acalmar? O que me diz o doutor é um petardo capaz de fazer
explodir os alicerces da nossa excelsa Academia Brasileira de Letras!
- Criada pelo Machadinho!
- Sim. Isso a Nação, imortalmente grata, deve a ele.
[...]
Três graus e sete décimos a mais em todas as horas de todos os dias de muitos
anos tornar-me-ão mais longo, e confortável, o embate com o maior de todos os
males, que é a desvairada insania brasiliensis.
- E o rei, o que disse?
- Pediu-me notícia da nossa específica loucura nacional.
- Temos então uma loucura própria?
- Tratarei disso no seguinte capítulo.
Literatura, o que é?
Entre nossos grandes estilistas, Machado de Assis e Guimarães Rosa são as maiores vítimas de emulação ou simples imitação. E quanta página morta em tais 'homenagens', em geral oriundas de candidatos a ficcionistas, alunos aplicados ou professores sisudos. Lourenço Cazarré, ao contrário de falsear estilos, com muito humor e sarcasmo prefere respirar, e tem fôlego de sobra para isso, ao lado de alguns desses monstros sagrados. O que é literatura? Cazarré responde. De início, com o conto 'Um vate de incomensurável acuidade e furor', e é a presença de Graciliano Ramos que dá o exato tempero a uma cômica e irônica resposta - de modo algum a única obra-prima deste livro. No segundo conto, 'O último trem da infância', é o poeta Joaquim Cardozo o motivo de outra resposta. Os três contos seguintes, embora entre si tão diferentes, respondem cada qual a seu modo à minha indagação inicial. Já o último, 'Breve memória de Simeão Boa Morte', outra impagável obra-prima, como novela burlesca atinge os cimos machadianos, uma imensa resposta, e à altura desses mesmos cimos. Ainda arrisco dizer que essa última história até o próprio Machado, gaiatamente, assinaria.
André Seffrin