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Rogério Haesbaert questiona o discurso do "fim dos territórios" e propõe a concepção de multiterritorialidade, observando a desterritorialização como territorialização precária de grupos como os sem teto e os sem terra.
O mito da desterritorialização é o mito dos que imaginam que o homem pode viver sem território, que sociedade e espaço podem ser dissociados, como se o movimento de destruição de territórios não fosse sempre, de algum modo, a sua reconstrução em novas bases. Território é enfocado aqui numa perspectiva geográfica, intrinsecamente integradora, sempre em processo, a territorialização como domínio (político-esconômico) e a apropriação (simbólico-cultural) do espaço pelos grupos humanos.
A globalização neolibiberal acabou difundindo o mito do "fim dos territórios" (confundido muitas vezes com o "fim do Estado", onde a "aniquilação do espaço pelo tempo" seria responsável por grande parte do "preconceito espaço-territorial" que envolveu cada vez mais os territórios em uma carga negativa, vistos mais como empecilhos ao "progresso" e à mobilidade, a ponto de (teoricamente, pelo menos) submergirem no mar da "fluidez" ou das redes que tudo dissolve e desagrega.
O grande dilema deste início de milênio não é o fenômeno da desterritorialização, como sugerem autores como Paul Virilio, mas o da multiterritorialidade, a exacerbação da possibilidade, que sempre existiu, mas nunca nos níveis contemporâneos, de experimentar diferentes territórios ao mesmo tempo, reconstruindo constantemente o nosso. Desterritorialização seria de fato a territorialização extremamente precária a que estão sujeitos, cada vez mais, os "aglomerados humanos" dos sem teto, sem terra, e dos tantos grupos minoritários na sua luta pelo "território mínimo" do abrigo e do aconchego cotidianos.