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As convenções de gênero escancaradas, os métodos para anestesiar ou esquecer, o vício em telas e a distorção entre realidade e espetáculo: a obra de Izumi Suzuki, escrita durante os anos 1970 e 1980, parece estar mais próxima do atual Black Mirror do que de muitos clássicos da ficção científica. É o caso das viagens de consciência de 'You may dream'e de 'Lembranças do Seaside Club', da distopia queer 'Um mundo de mulheres com mulheres'e da violência televisionada de 'Tédio terminal', conto que dá título ao livro. Ainda que, é verdade, não faltem a estas histórias boas doses de fantasia e absurdo, como poltronas falantes, pretendentes amorosos alienígenas e tensões diplomáticas interplanetárias. Izumi Suzuki empresta a seus narradores e protagonistas uma voz emocionalmente desapegada que torna este conjunto tão singular quanto perturbador. Somando as inúmeras referências à música e ao cinema, as complicações dos relacionamentos familiares e amorosos, e um inconformismo não histérico, que aponta os arranjos sociais e vira o espelho para nós, a coletânea de contos Tédio terminal permanece como quem a escreveu: única, radical e eternamente jovem.